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OPINIÃO: Primeira impressão, menos governo e mais desgoverno

Qualquer pessoa que se interesse minimamente por política sabe que o início de um período de nova governança no poder executivo, de quaisquer das esferas da administração pública, é complicado. Seja pela necessidade de os novos gestores se inteirarem efetivamente dos mecanismos e engrenagens que movimentam a máquina pública, seja pelas muitas demandas cujo atendimento foi prometido durante a campanha eleitoral.

Mas esse período inicial também é, normalmente, um período de trégua, de observação e de paciência por parte de quem tem o dever de fiscalizar as ações dos governantes, por parte dos opositores, da imprensa e da própria sociedade. Usualmente, fala-se em 100 dias.

Alguns governos iniciam trôpegos, mas deixam claro, nas iniciativas, na coerência do discurso e nas ações inicialmente propostas, que serão capazes de fazer as adequações indispensáveis ao bom andamento da administração e à perseguição dos objetivos fundamentais do aparelho estatal, de cuja direção foram investidos pela soberania do voto popular. Outros, infelizmente, nas primeiras ações, na qualidade duvidosa das propostas que anunciam e na desconexão e trapalhadas dos discursos de seus vários agentes, mostram logo que tendem a soçobrar em anunciado e inevitável naufrágio, com danosas consequências para a maioria da população.

Faço esta longa introdução para dizer, dos governantes que assumiram a direção do Estado brasileiro este ano, que nem os analistas mais pessimistas quanto às expectativas de êxito da nova gestão poderiam antever tamanho descalabro na condução da imensa nau chamada Brasil. São ministros que se digladiam, ministros que não dizem coisa com coisa, ministros que, em quase dois meses de governo, sequer esboçaram frase sobre políticas públicas que pretendem implementar em suas áreas de atuação; são os filhos do presidente se imiscuindo em assuntos de Estado, que não lhes dizem respeito; são grupos que brigam por espaço e hegemonia e não fazem segredo dessa luta intestina. É o fogo amigo, são os laranjais, é o próprio presidente se prestando a gestos de explícita demagogia, na tentativa de mostrar ao brasileiro comum que ele é um igual, capaz, inclusive, de vestir camiseta pirata de um clube de futebol.

Enquanto isso, não se discutem, com a seriedade e a serenidade necessárias, temas como a reforma da previdência, que precisa ser feita mais pelas razões omitidas do que pelas razões apontadas por papagaios repetidores de meias verdades, os quais por interesses não confessados (defesa dos fundos de previdência privada, por exemplo) ou por preguiça intelectual (não estudam o tema com a profundidade que ele merece e não ouvem os vários lados com interesses na questão) não trazem à tona, de forma clara e objetiva, as razões fundamentais de um possível futuro colapso do sistema previdenciário brasileiro.

Por enquanto, infelizmente para todos nós, fora alguns escassos anúncios de medidas pouco mais que cosméticas, o governo atual, enredado na própria falta de conteúdo, parece brincar de governar.

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